mal o sol se erguia era sair da cama, a correr. a brinca não podia esperar. manhãs frias só aquecidas à esquina do zé mulato. as faces vermelho escurinho, como o pão de côdea crestada, os lábios sulcados pelo cieiro. à espera que aquele tiçanito saísse de trás das nuvens, para aquecer as mãos. entretanto chegavam as mães, com as mantas, para apanhar o sol. cadeiras de buinho, em fila, as mantas estendidas em cima, para expulsar as pulgas. os meninos e meninas, sentados ao colo das mães. as mãos das mães porfiando entre os cabelos, catando os piolhos. depois começava a brinca. ao 31 da pedra. as meninas todas sentadas em carreira, encostadas à parede, as pernas esticadas à frente. começava a lengalenga: 1, 2, 3, os cavalos a correr, as meninas a aprender, qual será a mais bonita, faz favor de arrecolher. oralidade cantante e sempre presente. e prosseguia até à última menina de perna esticada. deveria então ficar de olhos fechados e contar até 31, em voz alta e sempre a bater numa pedra grande, com outra mais pequena. entretanto fugiam todas, a esconder-se. depois era a procura, em todas as ruas, atrás dos quintais, nos currais, até encontrar alguma que a substituísse. outras brincas, em dias de chuva, mas a alegria era a mesma, eram o salto à corda. fazia-se o sorteio para ver quem começava, com a lengalenga do costume: sol e chovendo, as bruxas ao sol, comendo pão mole e agente que se amole ou, depois de um grande aguaceiro, quando o arco-íris iluminava o céu: arco da velha, quem te inventou, foi uma velha que por aqui passou, no tempo da eira fazia poeira, puxa lagarto por esta orelha. e a orelha era puxada a preceito, como convinha. e começava o salto à corda.
20 fevereiro 2010
manhãs de brinca
mal o sol se erguia era sair da cama, a correr. a brinca não podia esperar. manhãs frias só aquecidas à esquina do zé mulato. as faces vermelho escurinho, como o pão de côdea crestada, os lábios sulcados pelo cieiro. à espera que aquele tiçanito saísse de trás das nuvens, para aquecer as mãos. entretanto chegavam as mães, com as mantas, para apanhar o sol. cadeiras de buinho, em fila, as mantas estendidas em cima, para expulsar as pulgas. os meninos e meninas, sentados ao colo das mães. as mãos das mães porfiando entre os cabelos, catando os piolhos. depois começava a brinca. ao 31 da pedra. as meninas todas sentadas em carreira, encostadas à parede, as pernas esticadas à frente. começava a lengalenga: 1, 2, 3, os cavalos a correr, as meninas a aprender, qual será a mais bonita, faz favor de arrecolher. oralidade cantante e sempre presente. e prosseguia até à última menina de perna esticada. deveria então ficar de olhos fechados e contar até 31, em voz alta e sempre a bater numa pedra grande, com outra mais pequena. entretanto fugiam todas, a esconder-se. depois era a procura, em todas as ruas, atrás dos quintais, nos currais, até encontrar alguma que a substituísse. outras brincas, em dias de chuva, mas a alegria era a mesma, eram o salto à corda. fazia-se o sorteio para ver quem começava, com a lengalenga do costume: sol e chovendo, as bruxas ao sol, comendo pão mole e agente que se amole ou, depois de um grande aguaceiro, quando o arco-íris iluminava o céu: arco da velha, quem te inventou, foi uma velha que por aqui passou, no tempo da eira fazia poeira, puxa lagarto por esta orelha. e a orelha era puxada a preceito, como convinha. e começava o salto à corda.
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3 comentários:
como é importante minha amiga, deixar para quem o não viveu as memórias do tempo que passou
uma viagem no tempo e que bem sabe lê-la!
um abraço amigo e deixo aqui para nosso amigo Andrade da Silva uma sentida lágrima pela bela Pérola do Oceano que tanto sofre Pela Ilha da Madeira, meu amigo do seu tempo menino que faz chorar um dos homens mais corajosos que conheço e o grande "Capitão de Abril' e grande defensor do Alentejo e da reflora agrária
Sejamos todos hoje presentes chorando com ele a sua Madeira
abraço
Marília Gonçalves
é um dia triste para todos
mas para o nosso capitão de abril se-lo-à tanto que só ele saberá quanto. nós poderemos adivinhá-lo mas não senti-lo como ele.
um grande abraço de solidariedade para ele
e para tantos madeirenses que sofrem neste momento
Em Dezembro passado o Coronel Andrade da Silva lançava um aviso de Alerta
aqui deixo o primeiro paràgrafo e o link que leva à totalidade do seu artigo
Marília
GENERAL INVERNO VIVO E PRESENTE:
Desde há muitos anos que, quando chego à Madeira, vejo com preocupação o afunilamento das Ribeiras e a construção de casas em zonas de risco, em terras que pela sua abundância de água têm nomes como Serra de Água. Todavia diziam-me, os que julgam que sabem destas coisas, que a pluviosidade tinha diminuído, e que os Invernos à antiga já não regressariam. Sempre duvidei destas teorias, exactamente porque sou um ignorante impenitente, enfim…
continua aqui:
http://liberdadeecidadania.blogspot.com/2009/12/general-inverno-vivo-e-presente.html
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