há dias tive de almoçar num lugar muito conhecido do barreiro, que agora não me apetece dizer o nome. depois de escolher o meu prato sentei-me ao acaso, perto de um casal que já estava a almoçar. eram pessoas da minha idade, pouco mais ou menos. ela um pouco mais nova que ele, ou aparentava. talvez pelas roupas que vestia, o cabelo pintado, uma certa frescura. ele muito formal (acho que tinha cara de médico) camisa branca, gravata e sobretudo escuros. o cabelo grisalho dava-lhe um ar de al pacino, no filme “Perfume de Mulher”. poderão dizer que nessa altura o al pacino ainda não era grisalho, mas isso é um pormenor que não interessa nada. enquanto debicava o meu quiche de legumes e engulia a sopa reparei na forma como se olhavam. de vez em quando ele dizia qualquer coisa, eu não conseguia ouvir - falavam baixinho e por causa do barulho … e além disso não podia pôr-me à escuta, tinha de disfarçar a curiosidade. – ela olhava-o de uma forma muito especial, que só ele saberia porquê. qualquer pessoa como eu, que olhava de fora, diria que havia ali grande paixão. ele dava-lhe pequenos toques cúmplices no braço, como que a desafiá-la para qualquer coisa que, ali, naquele sítio não teria lugar. de repente ficou um pouco mais de silêncio e consegui ouvir “não ponhas tanto azeite, é demais! eu ponho o azeite que eu quiser, e tú põe mas é azeite no bacalhau, que está muito seco”. e foi isto que eu consegui ouvir!!! eles falavam de azeite! depois ele agarrou no copo de vinho dela e bebeu-o, quase todo. em seguida ela bebeu o resto. levantaram-se e saíram. eu ainda fiquei, de volta do meu quiche.
14 fevereiro 2010
histórias de paixão. a propósito do dia dos namorados
há dias tive de almoçar num lugar muito conhecido do barreiro, que agora não me apetece dizer o nome. depois de escolher o meu prato sentei-me ao acaso, perto de um casal que já estava a almoçar. eram pessoas da minha idade, pouco mais ou menos. ela um pouco mais nova que ele, ou aparentava. talvez pelas roupas que vestia, o cabelo pintado, uma certa frescura. ele muito formal (acho que tinha cara de médico) camisa branca, gravata e sobretudo escuros. o cabelo grisalho dava-lhe um ar de al pacino, no filme “Perfume de Mulher”. poderão dizer que nessa altura o al pacino ainda não era grisalho, mas isso é um pormenor que não interessa nada. enquanto debicava o meu quiche de legumes e engulia a sopa reparei na forma como se olhavam. de vez em quando ele dizia qualquer coisa, eu não conseguia ouvir - falavam baixinho e por causa do barulho … e além disso não podia pôr-me à escuta, tinha de disfarçar a curiosidade. – ela olhava-o de uma forma muito especial, que só ele saberia porquê. qualquer pessoa como eu, que olhava de fora, diria que havia ali grande paixão. ele dava-lhe pequenos toques cúmplices no braço, como que a desafiá-la para qualquer coisa que, ali, naquele sítio não teria lugar. de repente ficou um pouco mais de silêncio e consegui ouvir “não ponhas tanto azeite, é demais! eu ponho o azeite que eu quiser, e tú põe mas é azeite no bacalhau, que está muito seco”. e foi isto que eu consegui ouvir!!! eles falavam de azeite! depois ele agarrou no copo de vinho dela e bebeu-o, quase todo. em seguida ela bebeu o resto. levantaram-se e saíram. eu ainda fiquei, de volta do meu quiche.
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2 comentários:
Pois nem tudo o que parece é.
Também me ponho a pensar no que vão a pensar aquelas caras, raras vezes ledas que encontro no metro. São caras que me fazem dor, mas algumas despertam-me tantas primaveras de amor, só que a primavera já vai longe, e o amor é um pisco de peito doirado preso.
Se tivesse tido alguma coisa a ver com a criação do mundo fazia-o com temperatura mais amena para andarmos mais nus e com alimentação vegetariana para não fazermos mal a outros animais, com a vantagem de sermos mais elegantes. Bem se cada um de nós fosse o criador o mundo seria mais caos do que é.
Bem ouvir,ouvir o que se passa ao lado, enfim... mas o gesto é tudo, mas parece que no caso o gesto era de amor, mas a conversa era de quem manda em quem e de azeite no bacalhau,como a palavra pode trair, o gesto, conquanto a mais das vezes é este e o tom como se fala que trai a sinceridae da palavra.
abraço
asilva
muito bem dito, joão... bom eu tb não estava à escuta e além disso era um local público.mas que era uma grande paixão, não tenho dúvidas. ou pelo menos a mim me quis parecer assim.
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