01 fevereiro 2010

carta a um capitão de Abril












estimado capitão
Andrade da Silva

essas Pias que tão bem recorda e fala https://www.blogger.com/comment.g?blogID=4042488865759147347&postID=2782610039332118942 e aonde ainda é recordado por alguns, são as “minhas”. e as de Francisca, como disse o nosso amigo Carlos Domingos poeta do mundo, que tal como ela Francisca, foi um militante clandestino contra o fascismo de então e o de agora. essas Pias pertencem ao concelho de Serpa, mas já pertenceram ao de Moura antigamente. por isso aquela moda, natural de Pias: lá vai serpa, lá vai moura, e as pias ficam no meio, em chegando à minha terra, não há que ter “arreceio”. isto em boa pronúncia pieira, que é como deve ser cantado. pois eu recordo-me bem, quando o capitão, então alferes, Andrade da Silva lá andou. se não estou em erro, até esteve na ocupação da herdade da ínsua, perto da herdade do alvarrão. a ínsua fica na margem esquerda do Guadiana, já para os lados de Moura. eu também lá estava nesse dia, trabalhando. recordo-me de quando nos reunimos todos, sob a copa da azinheira, onde todos os dias descansávamos ao almoço. os militares, então muitos bonitos nas suas fardas, que já não representavam tristeza, barba escura e cerrada, negros e compridos os cabelos. soldados de arma ao ombro e revolução em riste! imagem mítica de guerrilheiros da Sierra Maestra, transposta para o Alentejo, vermelho de esperança. a esperança estava em todos os olhares e rostos e peitos e corações. e saía para o ar provocando explosões, de alegria. eu, rapariga nova (não o são todas as raparigas?) 16 anos! assistia a tudo, um pouco afastada, tal como as minhas companheiras, que ali estávamos todas juntas, separadas dos homens como era o hábito. não porque não quiséssemos estar lá junto deles, a ouvir todas as palavras e a guardá-las em nós. mas é que os homens, tão revolucionários eram e não nos queriam lá, perto deles. não nos deixavam chegar a certos sítios que julgam só deles, ainda hoje. mas nós é que já não somos raparigas novas, já nos passaram pela pele 35 anos. já não estamos para isso, apesar das tentativas que ainda hoje alguns fazem. são pequenas revoluções que temos de travar, todos os dias. mas essa seria outra conversa e não é chamada agora para aqui. pois eu e as minhas camaradas não ouvíamos todas as palavras. chegavam-nos algumas: revolução, exploração, a terra a quem a trabalha, viva a reforma agrária. mas no final ouvimos distintamente: viva o 25 de Abril! e todos e todas respondemos unissonamente: o povo unido jamais será vencido! esta é uma recordação, que eu não sei se é também do capitão, apesar de ser alferes então, se realmente lá esteve nesse dia ou não, mas ficou para sempre, guardada em meu coração.

25 de Abril sempre! fascismo é que nunca mais!

1 comentário:

andrade da silva disse...

Cara Amiga

Obrigado. Andei por muitas terras, naturalmente estive perto de si, mas o problema das terras era comum a Pias e a outros lugares, mas o que me deu água pela barba foram os problemas dos lagares.

Amei Pias, como todo a Alentejo, as pessoas mexiam-se e as coisas aconteciam. Construia-se o Futuro e da minha parte nunca ao de leve passou qualquer divisão de partidos, para mim era a aliança pura do Movimento das Forças Armaas e o Povo,era a justiça em marcha, era a construção do Futuro, nunca pratiquei violência contra ninguém, mas nunca aceitei que alguém se pudesse deitar sem pão,só porque o lagar não funcionava,ou a terra não produzia, isto, nunca devia ter acontecido, e, então, depois de Abril era impensável e nunca comigo isso poderia ser tolerável.

Honro-me de ter evitado a violência, mas ter ajudado a crescer a alegria,e a fazer com que se pagasse milhares de contos em salários em atraso. Todos os latifundiários denunciados por essa prática cobarde, depois de muita resistência lá arranjaram os trocos para pagarem

Ao povo de Pias um grane abraço e para si.
Gostaria de publicar esta carta no blogue liberdade e cidadania.www.liberdadeecidadania.blogspot.com/
Saudações de Abril

andrade da silva