hoje a poesia
está apenas no meu olhar
e naquele recanto do jardim
nas raízes daquela árvore exótica
nos olhos do cão vadio
naquele grupo de operários
que chegam do velho porto da cuf
para o seu café de camaradas
nos guindastes
nas altas chaminés
nos castelos de betão
castelos industriais
esses são
os verdadeiros castelos do barreiro
nos barcos dos pescadores
na névoa que envolve o rio
nas velas brancas de um veleiro
naquela velha mulher
do barreiro
que como se no alentejo
ainda
varre a rua à sua porta
todos os dias
naquele grafiti
que incita
questiona tudo
nas velhas casas
ora alegres
do bairro operário
na saudação do jardineiro
no relógio
que da sua torre
me diz
são horas do almoço
no meu olhar
e no teu olhar
afinal
a poesia
anda no ar
livre
livre
nas asas de uma gaivota
Sem comentários:
Enviar um comentário