16 julho 2010

aquela cidade II












































é estranha aquela cidade

ali correm rios de petróleo
petróleo nos táxis amarelos, aos milhares
petróleo nos camiões ruidosos, dia e noite, percorrendo a cidade
petróleo nas ruas de alcatrão
petróleo nas pastilhas elásticas pisadas nos passeios
petróleo nos plásticos dos talheres e nos pratos dos restaurantes de fast food
petróleo no ar condicionado do quarto de hotel
petróleo nas lojas para onde fugimos dos 42 graus celsius que abrasam a cidade
petróleo em milhões de luzes de janelas, nos escritórios vazios à noite

naquela cidade respira-se petróleo

aquela cidade quase sucumbe às toneladas de lixo em sacos de plástico preto
e ao fedor que deles emana aescorrer pelos passeios

aquela cidade é mesmo estranha

naquela cidade busquei a poesia
e não descobri gaivotas

os arquitectos daquela cidade esqueceram-se das praças
da arte pública
das fontes
dos jardins
e dos canteiros com flores

naquela cidade não há gaivotas

naquela cidade estranha eu não poderia viver

aquela cidade é nova york

3 comentários:

Anónimo disse...

Ou não sejas tu Rubra Papoila, eu também não seria capaz de viver numa cidade assim e parece-me impossível como há pessoas que o seu maior sonho é irem para lá.
Beijo, Joana

Marília Gonçalves disse...

Abrir a porta do tempo
Ver cair fora de nós
Cada parcela de vento
Cada partícula de voz
Ver o olhar a encher
De colheita a inventar
Entre o sorriso e a dor
Duma ravina solar.
nuvens cinzentas ondeiam
Sinais da tarde que teve
Promessas de claridade
A esvair-se em nova sede


Marília Gonçalves

só planície disse...

joana
há sonhos que mais parecem pesadelos
:)
bjs