o rio que corre na minha aldeia já não é o mesmo. mas tem o mesmo nome, segue o mesmo curso e vai desaguar no mesmo exacto ponto da margem esquerda do guadiana. as suas águas antes corriam livres e hoje perdem-se no caminho, presas como ovelhas em apriscos, a que chamamos barragens. o nome do rio deram-lho os habitantes da minha aldeia. há tantos séculos que ninguém se lembra já do seu significado. vá-se lá saber o quer dizer enxoé. nas margens deste rio sonhavam os pescadores de ribeiras apanhar pardelhas nas suas nassas, aparelhos de pesca tão antigos como os homens, da minha aldeia. mas a minha aldeia também já não é a mesma. hoje a minha aldeia é uma vila e as ruas onde brinquei e corri, cheias de gente rumorosa, estão agora povoadas de fantasmas, mulheres velhas e gastas pela ausência de maridos, filhos e netos. as suas mãos vazias agitam lenços brancos, molhados de lembranças. a minha aldeia já viu partir tanta gente! acho que também o rio partiu. apenas a ponte persiste em ficar, presa ao tempo dos homens. talvez ela sonhe também em partir, em busca do rio da minha infância.
25 junho 2010
o rio da minha infância
o rio que corre na minha aldeia já não é o mesmo. mas tem o mesmo nome, segue o mesmo curso e vai desaguar no mesmo exacto ponto da margem esquerda do guadiana. as suas águas antes corriam livres e hoje perdem-se no caminho, presas como ovelhas em apriscos, a que chamamos barragens. o nome do rio deram-lho os habitantes da minha aldeia. há tantos séculos que ninguém se lembra já do seu significado. vá-se lá saber o quer dizer enxoé. nas margens deste rio sonhavam os pescadores de ribeiras apanhar pardelhas nas suas nassas, aparelhos de pesca tão antigos como os homens, da minha aldeia. mas a minha aldeia também já não é a mesma. hoje a minha aldeia é uma vila e as ruas onde brinquei e corri, cheias de gente rumorosa, estão agora povoadas de fantasmas, mulheres velhas e gastas pela ausência de maridos, filhos e netos. as suas mãos vazias agitam lenços brancos, molhados de lembranças. a minha aldeia já viu partir tanta gente! acho que também o rio partiu. apenas a ponte persiste em ficar, presa ao tempo dos homens. talvez ela sonhe também em partir, em busca do rio da minha infância.
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2 comentários:
Como sempre um belo texto Rosalina.
Um grande abraço para aliviar as saudades da tua meninice e das coisas boas da tua aldeia, não fiques triste....
Joana
obrigado joana
tb por teres voltado
abraço
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