a casa está vazia
fria
a lareira apagada
inchada
de silêncio
as cadeiras junto às paredes
encostadas
oferecem memórias vagas
numa gaveta
alguns objectos usados
uma carteira
uns brincos
sóis de trazer nas orelhas
pendurados
ali
a pequena navalha
preto o cabo
sempre a trazia
consigo
cortava vida
aos pedacinhos
pão e chouriço
pequenos os copos de vinho
sobre os móveis
molduras
felizes os rostos
a sorrir
o pó do tempo
tudo começa a cobrir
agora
quando volto
a casa
lugar que me viu nascer
é sempre assim
ninguém me espera
não há braços
para me receber
só o silêncio
lembranças
um certo jeito
de olhar
finissima agulha
no peito
a espetar
6 comentários:
Quando os vemos partir, e regressamos aos seus sítios,constatamos que a sua ausência é definitiva,e sentimos que a sua partida é um passo em frente para a nossa própria partida, e que de cada vez que perdemos alguém, morremos também, um bocadinho.
Dulce
SOBRE O POEMA "CASA VAZIA"
Coloco-o entre os poemas mais belos e sentidos que tenho lido ultimamente.
Li-o em conjunto com a Francisca. Ela chorou.
Um grande beijo
Carlos
à dulce
eles partem mas nós, que cá ficamos, temos de prosseguir. são as suas memórias que em certos dias nos dão a força, para continuar
ao carlos
obrigado pela generosidade
à francisca obrigado também pelas lágrimas
Amigas, Amigos
As partidas são sempre dolorosas, principalmente se definitivas.
Outras hà, a dos que partiram em busca de mais vida, de ar e futuro.
Malditos sejam os que nos desgovernaram e desgovernam Portugal, obrigando-os a partir, entre prantos dos que ficam e dos que partem.
Sem deixar de referir todos os que durante o salazarismo/caetanismo para fugirem ou negarem a guerra colonial, deixaram levando os seus atrás para as terras estranhas, esvaziando aldeias, populações, e destruindo a alegria dum povo no seu solo e na língua em que nasceu!
com o meu abraço de Abril
Marília Gonçalves
abraço solidário Marília
Anda sozinha
quem o diria
a avózinha pelo meio-dia
vai para a horta
vai ou não vai
curvada e torta
como seu pai...
tomou-lhe o jeito
a posição
vergou-lhe o peito
de arar o chão...
Marília Gonçalves
é a paisagem
do trigo- pão.
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