25 julho 2012

tempo de mãe



vem cá 
andorinha minha

vem  a meus braços
pousar
que te quero com abraços
alimentar


enquanto aqui estás
todo o tempo é primavera

e eu
dou
um pouco de paz
a esta minha
constante espera

20 julho 2012

oncologia barreiro




o serviço de oncologia do hospital do barreiro está em risco de fechar, por falta de médicos. a saída de dois médicos e a dita "impossibilidade" financeira de contratar outros,  pode levar ao encerramento  desta unidade de saúde vital.
este serviço, que recebe doentes de todo o sul do país, até à bem pouco tempo muito bem apetrechado, com excelentes médicos e com elevados níveis de qualidade, está agora à beira do encerramento.
é a isto que chegámos, com a política de ataques e esvaziamento do serviço nacional de saúde, levada a cabo pelo passos coelho, sob a tutela da troika. destruir tudo quanto representa direitos conquistados com a a revolução de abril, são os objectivos desta corja maldita, que tem um cifrão no lugar do coração.

estão em causa direitos básicos, como a saúde.
não será caso para o povo do barreiro se revoltar? ocupar o hospital!? pelo menos protestar!
como quando tentaram encerrar as urgências pediátricas, e não conseguiram.

mas o povo do barreiro, e as suas elites, parecem não dar por nada e é bem possível que isto venha a acontecer...

18 julho 2012

correio aéreo das saudades


esta luz
este rio
estas manhãs
este sol a nascer


este entardecer
esta cidade
esta paisagem

a falta que podem fazer


por isso as envio
 para ti
no correio aéreo das saudades



mas
já falta pouco
para que possas
de novo
voltar 
a ver
esta terra
onde vieste nascer


boa viagem!

11 julho 2012

eu nasci num castelo



monte da bolarina, pias


eu nasci num castelo

mas não sou uma princesa

amo o meu castelo

para mim é sempre belo


castelo de noites estreladas

calmosas

onde eu menina

sonhava

quando sobre a manta

me estendia

nas pedras mornas da rua

olhando os astros

e o espaço

e pedia

"ó pai conte lá

outra vez

o conto do homem na lua"

eu não sou uma princesa
nem sinto paixão em não sê-lo
mas nasci num castelo


na rua do meu castelo

não há palácios nem princesas

e as pedras e as casas não têm idade

mas falam comigo

sinto-as macias

perderam a aspereza

ficaram lisas

doces


sabem

a saudade


o meu castelo...

como fica longe

mas para mim

está sempre perto

estou sempre a vê-lo



e o que digo é tão certo

que não tenho pena em dizê-lo

eu

 não sendo uma princesa

querendo

podia sê-lo

pois

eu

nasci num castelo

05 julho 2012

emigrantes




quando passo naquele jardim
o jardineiro sorri para mim
desejando-me 
“bom dia di trabalho”

a sua voz de pássaro
alegre
sempre a cantar
 que trouxe 
das  ilhas
verdes
do verde mar 

deixa-me a pensar

no preço
que teve de pagar


deixar o seu país
para emigrar
trabalhar
em portugal

na sua pele
 cor da sua terra
escura
brilha a alegria
da vida 

em pérolas 
na alva dentadura

no seu passo de coxear
posso adivinhar
a vida deste jardineiro
 não são flores
é
ou foi dura

numa obra qualquer 
desta terra
perdeu uma parte de si
do seu corpo
como se combatente 
de uma guerra

quem sabe se por isso
é agora jardineiro de serviço
neste horto

nas contas 
das grandes empreitadas
dos exploradores
do mundo 
não constam
as vidas roubadas
as famílias apartadas

o quanto pagam os emigrantes
quanto custam as suas dores


sem saber
este jardineiro
que oferece sorrisos
como flores
alegra o meu dia
tratando o seu jardim
como se fizesse amor
ou poesia


02 julho 2012

muito à frente no tempo


ontem, quando passava na autoestrada do sul a caminho do barreiro, avistei ao longe a igreja de messejana. 

do alto do seu cabeço, dominando várias légua em redor brilhava, branca de cal, recortada na paisagem
ondulante e azul do calor.

lembrei-me daquela história antiiiiga!, que se contava e muito arreliava os amigos de messejana. era o caso 

da praia. os de messejana desejavam fazer da sua ribeira uma praia.

pudera! com os calores que ali fazem, esturricando tudo....mas não os sonhos. 

com a história da praia tornaram-se alvo de chacota durante várias gerações.

actualmente é coisa comum fazerem-se praias aqui ou ali e hoje ninguém acharia disparatada a ideia.

a verdade é que esta história só demonstra como o povo de messejana estava muito à frente do seu tempo.

ainda hoje não têm praia, mas aquilo que eles sonharam, outros o fizeram.

diz miguel torga que o que importa é partir. pois neste caso o que importa mesmo, é o sonho. e não desistir dele. 

quem sabe um dia ...

enquanto não têm a sua praia eu ofereço-lhes esta, que trouxe especialmente do algarve para eles.


27 junho 2012

lisboa de ponte a ponte




da serra do louro
quanto pode a vista alcançar...
entre o sado e o tejo
todo o mundo é meu


à bolina no mar da palha,
aproveitando, o vento e a maré
vogam velas do barreiro


apenas em dias escuros
a luz incide, directa
na silhueta da ponte


eu, aqui de longe, tento capturá-la
e sem querer, a este pombo,
 ligeiro,
que aqui ficou prisioneiro


dias e dias de calmaria
lisboa de cores mil
hoje o tejo é de prata


na colina do castelo...
será que apenas eu consigo vê-lo?


mais belo, ainda, ao entardecer



na baixa-mar o tejo desvenda-se
em "ilhas afortunadas"


terreiro dos  passos  mil


tejo de seda
tejo veloz
deslizando
a caminho da foz


"o que importa é partir"


uma ponte no coração
com nome de revolução

vista daqui, lisboa começa em almada
e o tejo
é um pego largo
de águas mansas



a ponte espreita
sobre a língua de areia, estreita
na maré cheia de alburrica

20 junho 2012

alentejanos em extinção


mondadeiras, dórdio gomes, 1932


o passos coelho quer acabar com as maternidades das cidades de beja, évora e portalegre

... que não nascem crianças suficientes para as manter em funcionamento!!!

mas agora até as maternidades  têm que dar lucro!!

... e as escolas!?

e os serviços de saúde!?...

e os correios!?...

 e as juntas de freguesia!?...

etc., etc., etc.,

se já são poucas as crianças que nascem no alentejo

 cada vez serão ainda menos

pois têm de ir nascer... 

sabe-se lá aonde...


por este andar,
 os alentejanos vão desaparecer do mapa

12 junho 2012

à pesca no barreiro



para quem pensava que já não havia pesca no barreiro
com os novos tempos, ela aí está de volta



as poitas flutuam
no sereno deslumbramento

  


 regresso da faina


o desemprego obriga
e o moinho gigante, sempre de vigia




 amanhã é outro dia
 moinho do bento



e ainda faltam alguns nesta família...



traineiras, a caminho da doca da cp
quem sabe os mares que já navegaram



é preciso paciência, talvez pique...
e a desindustrialização em pano de fundo



sempre a música das conchas




a crise, o desemprego...
 e os novos pescadores


o guincho do cais  
na bento gonçalves



 antigo cais da mercantil



há peixinho para todos



o mouraria , velho cacilheiro, veio parar ao barreiro
afinal, não foram só os alentejanos...



na antiga doca da cp


junto á capitania, na miguel pais




caprichos da maré
na praia de alburrica




o artista passou por aqui, 
talvez entre uma pichagem e outra
um olhar sobre lisboa 
muro do mexilhoeiro



...sem dúvida!
 muro da antiga fábrica de cortiça braamcamp



...e nada como uma vela 
vermelha
para alegrar o dia



04 junho 2012

cordoba. palabras en la calle



fim de tarde 

de um  fevereiro

 frio

em córdova



  espelho de guadalquivir

assim lhe chamamos

que nome a si mesmo se dará

o rio ...

ignoramos


no outro lado do espelho

as palavras 


por la ventana

moriscas an mirado

lo que mirar querian

lo que an mirado

...

quien

 las ai mirado...


no lo sé



caminamos por la vida
por la calle


al encuentro de la noche

 ... de las tapas

 e una copa de vino...


si! 

contracorriente


siempre!




caminando, caminando

se hace el camino

lo final 

non lo vamos a saber


columnas de piedra

miles!

como  palmeras

 en el desierto


puertas abiertas a la claridad

al dia

a la vida


mi casa es

una ciudad

con una puerta 

a la aurora


siempre busco a mi lugar



pero no me he encontrado 

rc