quando passo naquele
jardim
o jardineiro sorri para
mim
desejando-me
“bom dia di
trabalho”
a sua voz de pássaro
alegre
sempre a cantar
que trouxe
das ilhas
verdes
do verde mar
deixa-me a pensar
no preço
que teve de pagar
deixar o seu país
para emigrar
trabalhar
em portugal
na sua pele
cor da sua terra
escura
brilha a alegria
da vida
em pérolas
na alva dentadura
no seu passo de coxear
posso adivinhar
a vida deste jardineiro
não
são flores
é
ou foi dura
numa obra qualquer
desta
terra
perdeu uma parte de si
do seu corpo
como se combatente
de uma
guerra
quem sabe se por isso
é agora jardineiro de serviço
neste
horto
nas contas
das grandes
empreitadas
dos exploradores
do mundo
não constam
as vidas roubadas
as famílias apartadas
o quanto pagam os emigrantes
quanto custam as suas dores
sem saber
este jardineiro
que oferece sorrisos
como flores
alegra o meu dia
tratando o seu jardim
como se fizesse amor
ou poesia
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