por alentejos ignorados e desconhecidos chega-se à aldeia de torre vã, concelho de ourique. que nome estranho. como se pode erguer uma torre vã!? será o vento que a sustenta? será o esforço humano que a suporta? esta herdade/aldeia, quem sabe com origem medieval, dado o topónimo torre (defesa), parece ter tido origem numa grande propriedade senhorial mas, o que lê o nosso olhar é, que esta aldeia do latifúndio foi criada para servir, a uma grande casa agrária que vivia alcandorada no seu trabalho e na exploração de gerações e gerações de famílias rurais.
um grande palácio, domina tudo em redor, e apesar do abandono em que parece estar, e várias dependências, sugere que naquela propriedade viviam os senhores do privilégio. junto a uma ribeira, de que não consegui saber o nome, havia uma casa de fresco, de azul pintada, por dentro e por fora anilada, rodeada de arvoredo. nas margens dessa ribeira crescem, faias e freixos. dentro da casa, adivinha-se, viviam os senhores como altos seres marinhos, claros e arrogantes.
nas cercanias do palácio, em pequenos casebres habitavam homens e mulheres, de pele escura, negros de tanto trabalho. como formigas em carreiro, regavam com gotas do próprio rosto, os canteiros do jardim, a horta, o pomar, as searas, o olival. trabalhavam no sol a sol, de dia. de noite a aldeia velava. assim, que nada faltava aos senhores do privilégio. a aldeia trabalhava, trabalhava, mas o trabalho nunca chegava. a aldeia vivia aprisionada nos muros do latifúndio.
até que um dia rebentou a revolução. e os homens e as mulheres e as crianças e os jovens da aldeia vestiram-se dos sentimentos mais puros, rasgaram os muros e a servidão e ergueram a bandeira da coragem e firmes, e rijos, mudaram o mundo e criaram futuros. e os senhores do privilégio rastejaram, para o brasil e para a suiça e outros esconderijos. por uns tempos acabou o mal e reinou a festa universal, a fraternidade e a liberdade. mas o sonho na aldeia durou pouco - duram pouco os sonhos dos pobres - foi breve, deu em nada. e pouco a pouco os senhores do privilégio voltaram. e lá estão de novo, no palácio. hoje a aldeia voltou a ser murada.
rc
rc
2 comentários:
maria
"quem sabe"?!
a maria sabe?
a reforma agrária só pode ser maldita para quem nunca a entendeu.
porque é que as pessoas que comentam aqui, não sabem o nome da ribeira?
não são de lá, está visto...nesse caso não podem falar com conhecimento de causa. dizem mal só por dizer...
boa tarde.Chamo-me Mónica Lopes de torre-vã,sou uma das habitantes desse monte que gosto de viver,apesar de ter poucas pessoas,e, tenho orgulho em viver neste monte. Era uma herdade grande onde trabalhavam muitas pessoas de muito trabalho e de sol a sol.Mas pessoas honestas.Vivo agora num monte onde agora não se vem ninguém,apesar de estarmos longe de tudo.Ate concordo com algumas coisas que você diz.Mas Torre-vã não é uma aldeia mas sim um monte isolado com poucas pessoas
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