cristiano da fonseca júnior e sobrinho. foto de manuela fonseca
mas com o comboio chegou, também, a exploração capitalista mais moderna. e nessa terra construíram-se fábricas. o alfredo da silva construiu muitas fábricas. e o barreiro tornava-se, segundo os manuais "a mais moderna vila industrial". nunca se questionando, esses manuais, acerca das condições de vida, miseráveis, dos operários, dos bairros de barracas entre o lavradio e a baixa da banheira. só em 1948 eram mais de 480 barracas, uma enxóvia imensa, onde cresciam crianças e se desenvolviam doenças. xangai, assim lhe chamavam.
e a cuf desenvolvia-se e a exploração intensificava-se e a resistência ao fascismo também. e as prisões enchiam-se de corticeiros, ferroviários e outros operários.
e as altas fábricas do maior potentado capitalista da península ibérica prosseguiam, vomitando gases e fumos venenosos, que tudo queimavam: hortas e pulmões.
e as oficinas alargavam-se e metiam sempre mais gente, chegaram a ser 2000. tocava a buzina ás 6 da tarde, e as ruas vestiam-se de ganga azul. ás segundas feiras cheirava a ganga lavada.
e o comércio crescia e desenvolvia-se. e alguns filhos de operários já chegavam às universidades e davam excelentes engenheiros.
esta é uma história de um barreiro que começou com o caminho de ferro.
hoje encerraram as oficinas gerais do caminho de ferro no barreiro. já não vão abrir quando os seus operários acabarem as férias. ficam em casa.
e o caminho de ferro, que tudo movimentou no barreiro, acaba.
e com ele, uma parte fundamental da história desta terra, e de portugal, desaparece. quando os terrenos das oficinas forem urbanizados, para mais especulação urbana. todos ficaremos mutilados sem as oficinas (primitiva estação ferroviária, anterior a santa apolónia!), o belíssimo edifício romântico da estação fluvial, a cocheira oitocentista (rotunda das máquinas), o bairro ferroviário, o armazém de víveres do arquitecto cottinelli telmo, a estação do lavradio (já toda alterada), a ponte pedonal do bairro das palmeiras (exemplar típico da arquitectura ferroviária).
e sem os ferroviários...
o que vai ser deles!?
o que vai ser o barreiro!?
sem os ferroviários!?...
sem os comboios!?
1 comentário:
100 de Abril, 200 contra estes parasitas, arrogantes da sua cultivada estupidez!
Manuela Fonseca
Enviar um comentário