ontem pela manhã
a chuva foi chegando
mansinha
devagar
manhã de setembro
fina como tule
foi-se agitando o rio
em tons de seda lavrada
rumorosa
e
as árvores da bento gonçalves
quando o vento as faz baloiçar
acordam em sons
como alguém a pisar
a caruma dos pinhais
e é como se
nesses passos
alguém
encontrasse num repente
e puxasse
o fio
das memórias perdidas
escondidas
intemporais
a chuva
com agulhas fininhas
vai-me furando a pele
e ameaça acabar com o meu passeio
pelo barreiro velho
recolho-me
numa rua estreitinha
no alto do hospital
entro por uma travessinha
sem nome
e em passo lento
atravesso
atravesso
num suave retrocesso
um local
fora do tempo
e eis maria vicente
mulher quinhentista
burguesa
do barreiro natural e vivente
à porta de seu hospital
que ali fundou
para a pobreza
num pequeno janelo
dois pares de olhos
verdes
coruscantes
em anelo
espreitam
maria vicente
e suas gatas à janela
entro
e converso com elas
e converso com elas
penso na máquina
do tempo
se eu conseguir tirar!...
a fotografia
mas quebro a magia
fogem os gatos
e oiço uma voz
trocista
estas gatas são umas artistas
não se deixam fotografar
ontem pela manhã
a chuva correu a cortina
do verão
e declarou o fim das minhas férias
mas foi em vão
não me apetece voltar
à rotina
vou continuar no verão
4 comentários:
Não vou Dizer de Abril o que foi Dito
Não vou dizer de Abril o que foi dito
Nem dos cravos direi o que serão
Que foi a Liberdade e é Infinito
E é perfume a pétalas de pão.
Não vou dizer de Abril o que Abril sabe
Nem dos Homens de Abril digo quem são:
Uma explosão da luz que o sonho invade
E transforma as ruas em canção.
Não vou dizer de Abril (faltam fonemas)
que Abril teve um só nome: Portugal
dizer que se rasgaram as algemas
é ficar muito aquém de quantas penas
findaram num país de sangue e sal.
Não vou dizer de Abril quanta tortura
O povo viu ceder nesse arraial
Quando se ouviu cantar quem mais ordena
São os filhos do povo em Portugal!
Não vou dizer de Abril de ideia aberta
Que esse céu mais azul, Abril o fez
Que cada encontro era uma descoberta
E renascia o povo português.
Não vou dizer de Abril cada fronteira
Esboroada no longe, na distância
nem que ali começava a terra inteira
e que o Mundo estava na Infância.
Abril começava o novo verbo
Articular de mãos gesto fraterno
Como voz infantil que num caderno
Escreve a frase final:
Fim do Inverno!
Marília Gonçalves
olá marília
ainda bem que regressaste
obrigado pelo teu poema
25 de abril sempre
bj
Um lindo Barreiro em imagens e palavras....
:))
obrigado loca
penso que a beleza, ou a sua ausência, tem muito a ver com os sentimentos que nutrimos pelas coisas ou pessoas. quando gostamos encontramos sempre beleza
e eu gosto do barreiro
Enviar um comentário