08 setembro 2010

ontem pela manhã





















ontem pela manhã



a chuva foi chegando

mansinha

devagar



manhã de setembro



fina como tule



foi-se agitando o rio

em tons de seda lavrada

rumorosa



e

as árvores da bento gonçalves

quando o vento as faz baloiçar

acordam em sons

como alguém a pisar

 a caruma dos pinhais



e é como se

nesses passos

alguém

encontrasse num repente

e puxasse

o fio

das memórias perdidas

escondidas

intemporais



a chuva

com agulhas fininhas

vai-me furando a pele

e ameaça acabar com o meu passeio

pelo barreiro velho



recolho-me

numa rua estreitinha

no alto do hospital

 entro por uma travessinha

sem nome
e em passo lento

 atravesso

num suave retrocesso

um local

fora do tempo



e eis maria vicente

mulher quinhentista

burguesa

do barreiro natural e vivente

à porta de seu hospital

que ali fundou

para a pobreza



num pequeno janelo

dois pares de olhos

verdes

coruscantes

em anelo

espreitam



maria vicente

e suas gatas à janela



entro

e converso com elas


penso na máquina

do tempo

se eu conseguir tirar!...

a fotografia



mas quebro a magia

fogem os gatos

e oiço uma voz

trocista



estas gatas são umas artistas

não se deixam fotografar



ontem pela manhã

a chuva correu a cortina

do verão

e declarou o fim das minhas férias

mas foi em vão

não me apetece voltar

à rotina



vou continuar no verão




4 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Não vou Dizer de Abril o que foi Dito


Não vou dizer de Abril o que foi dito
Nem dos cravos direi o que serão
Que foi a Liberdade e é Infinito
E é perfume a pétalas de pão.

Não vou dizer de Abril o que Abril sabe
Nem dos Homens de Abril digo quem são:
Uma explosão da luz que o sonho invade
E transforma as ruas em canção.

Não vou dizer de Abril (faltam fonemas)
que Abril teve um só nome: Portugal
dizer que se rasgaram as algemas
é ficar muito aquém de quantas penas
findaram num país de sangue e sal.

Não vou dizer de Abril quanta tortura
O povo viu ceder nesse arraial
Quando se ouviu cantar quem mais ordena
São os filhos do povo em Portugal!

Não vou dizer de Abril de ideia aberta
Que esse céu mais azul, Abril o fez
Que cada encontro era uma descoberta
E renascia o povo português.


Não vou dizer de Abril cada fronteira
Esboroada no longe, na distância
nem que ali começava a terra inteira
e que o Mundo estava na Infância.

Abril começava o novo verbo
Articular de mãos gesto fraterno
Como voz infantil que num caderno
Escreve a frase final:
Fim do Inverno!

Marília Gonçalves

azinheira disse...

olá marília
ainda bem que regressaste
obrigado pelo teu poema
25 de abril sempre
bj

Loca disse...

Um lindo Barreiro em imagens e palavras....
:))

azinheira disse...

obrigado loca
penso que a beleza, ou a sua ausência, tem muito a ver com os sentimentos que nutrimos pelas coisas ou pessoas. quando gostamos encontramos sempre beleza
e eu gosto do barreiro