20 dezembro 2012

ancorado em terra



um mastro ancorado 
em terra
na praia do mexilhoeiro
preso 
encalhado 
no barreiro
mastro amarrado 
em terra
olhando
lisboa
fronteiro
ao rio
fronteira

bandeira
que ao vento flameja
vento sem sorte 
a bafeja 
bandeira sem norte

assim vais tu
país amarrado
  
amarrado
ao passado
e não o vês 
o passado

um passado passado
duro
odioso
odiado

é para lá que caminhas
povo triste
povo manhoso
povo teimoso
que nem um burro

como se não soubesses

como se desconhecesses
o caminho
onde te teva 
esse caminho

18 dezembro 2012

A condição operária no Barreiro: Primeira metade do séc. XX. Um retrato social - III parte

Bairro no Alto do Seixalinho, Barreiro, 1938

3. Doenças

Por força das circunstâncias em que eram obrigados a viver, a sobrevivência era um desafio diário para muitos operários do Barreiro e suas famílias. Viver em bairros degradados e promíscuos, onde faltavam as condições mínimas para uma vida equilibrada, constituía um passo rápido para o desenvolvimento de doenças, originadas pela falta de saneamento básico e deficientes condições de limpeza.
«…como é possível higiene nas pocilgas e mançardas que servem de moradia a tanto milhar de desgraçados que mal ganham para não morrer? Como é possível o isolamento naquelas casas em que mais de uma família habitam, e em que pais e filhos, numa promiscuidade infame, vivem lado a lado, no mesmo aposento?»[1]

Certos bairros – e até uma grande parte da vila – transformavam-se em locais muito perigosos para a saúde, surgindo aqui e ali focos de tifo.
Foi o que sucedeu em Setembro de 1926, atribuindo a Junta de Freguesia do Barreiro tal fenómeno, à falta de limpeza na vila, que classificava como «péssima»[2]. Tais calamidades, por vezes vitimavam alguns indivíduos e atingiam toda a família, deixando-a incapacitada para o trabalho e em situação de indigência e miséria absolutas.
Segundo revela um Relatório da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, os problemas com a assistência médica, constituíam uma das maiores dificuldades com que se defrontava o executivo, entre os anos de 1930/1934. Especialmente a falta de equipamentos como centros de saúde e hospitais, obrigava ao transporte dos doentes para Lisboa. 

Queixava-se a Câmara por ter de pagar a hospitalização dos doentes pobres, o que representava um encargo «agravado sobremodo pela circunstância da Vila sede do Concelho ter uma população de 17:000 habitantes, na sua grande maioria constituída pelas classes trabalhadoras, sempre crescente, por se encontrar a uma pequena distância de Lisboa e ser, portanto, um centro de atracção na conquista do trabalho e por ser testa de caminho de ferro.»[3]


Pátio, Bairro das Palmeiras, ou Bairro da Folha, Barreiro, 1938

A hospitalização de doentes por parte da Câmara resultava, de um Decreto-lei de 1933, que considerava como doentes pobres “os indigentes e os indivíduos que vivam exclusivamente do seu trabalho, se dele auferirem apenas o indispensável para a sua manutenção” [4].
Ora, segundo a própria Câmara naquela época, apenas «uma insignificante percentagem da população do Barreiro é que não estará em condições de poder aproveitar do benefício concedido»[5], tendo a Comissão Administrativa emitido até à data mais de 700 guias de admissão nos Hospitais Civis de Lisboa, além dos doentes que entraram no Hospital-Escola de Santa Marta, no Instituto Bacteriológico e no Instituto de Oftalmologia. A Câmara queixava-se que a despesa era excessiva, para os seus recursos financeiros e propunha a construção de um hospital.
Por outro lado, a má nutrição contribuía fortemente para o aparecimento da tuberculose, em resultado de uma alimentação desequilibrada, minguada e desprovida, em última análise pela fome, o que não era difícil de suceder neste meio. O problema ainda se podia agravar mais porquanto, num espaço em que tudo se partilhava, o contágio era rápido e tanto podia ser uma família inteira, como uma sala de aula.
A tuberculose parecia constituir um tal flagelo que, até as actividades de carácter social que juntassem muitas pessoas, representavam um perigo para a saúde pública, pelos riscos de contágio.
«Pela autoridade local foi determinado que as sociedades de recreio locais não possam realizar mais de dois bailes por mês, a fim de evitar a propagação da tuberculose.»[6]
A respeito da tuberculose, sobretudo nas crianças em idade escolar, cita-se  aqui uma afirmação  do Presidente da Câmara Municipal do Barreiro Joaquim José Fernandes,  contida num relatório de 1948, onde pode ler-se o seguinte:

«Há poucos meses ainda, um médico desta vila afirmava que mais de 70% das crianças do Barreiro acusavam primo-infecções tuberculosas»[7] e referia mais: que os próprios professores primários observavam não ser possível exigir um rendimento intelectual mais elevado às crianças, mesmo em épocas de exame, em virtude de serem «raras as que podem resistir a um trabalho mais intenso sem acusarem graves sintomas de fadiga.»[8]

Referência ainda, para uma informação que a Comissão Municipal de Assistência, enviou ao Delegado do Dispensário do Barreiro em 1946, onde aconselhava a criação de uma sala de espera para os doentes. Diariamente, à porta daquele estabelecimento, esperavam consulta muitas pessoas e a presença «desses infelizes na rua, permanência que é assaz desagradável para todas as pessoas que transitam junto dessa instituição» era incómoda, pela exposição pública do problema.

Por fim, e para finalizar este tema, refira-se que, a tuberculose nos anos 40 era uma grande chaga social e um dos sintomas mais visíveis, das deploráveis condições de vida de parte significativa da população do Barreiro.

Notas:
1. - GAGO, Alves - «A tuberculose e a higiene», Eco do Barreiro, 8 Julho, 1931, p.6
2. - Junta de Freguesia do Barreiro, Livro de Actas da Junta, 1923-1931
3. - Arquivo Municipal do Barreiro (AMB), «Comissão Administrativa Relatório 1 de Maio de 1930 a 31 de Dezembro de 1934», Barreiro, Câmara Municipal do Barreiro, p. 55
4. -  D.L. nº 23:348, de 13 de Dezembro, 1933
5. - AMB, «Comissão Administrativa Relatório 1 de Maio de 1930 a 31 de Dezembro de 1934» p. 56
6. - GAGO, Alves - «A tuberculose e a higiene», Eco do Barreiro, 8 Julho, 1931, p.6
7. -AMB, «O Problema Habitacional no Concelho do Barreiro – Estudo – 1948», CMB/M/A/ 04.01/Cx 02 1945-51, p. 34
8. -  Idem


10 dezembro 2012

A condição operária no Barreiro: Primeira metade do séc. XX. Um retrato social II parte


António Patacas e seu irmão João. António começou a trabalhar na CUF tinha 9 anos. Foto do próprio.      

2. Sobrevivência quotidiana
 Carências alimentares, desemprego, pobreza e exclusão
Em Outubro de 1918 o Instituto de Seguros Sociais Obrigatórios realizou um inquérito sobre o consumo nos meios operários, chegando à conclusão que a “alimentação tipo” de uma família operária apresentava graves carências proteicas, com um fraco consumo de carne, leite e seus derivados, mas era também insuficiente em termos calóricos, não atingindo em muitos casos as 3400 calorias, consideradas «mínimo vital», para que um indivíduo pudesse trabalhar e sobreviver.
«Com um consumo alimentar que mal chegava ao «mínimo vital», o proletariado não podia deixar de apresentar numerosos sintomas de uma malnutrição que estava na origem das principais causas de mortalidade entre as classes laboriosas – a tuberculose e o tifo –, a par de uma das mais fortes taxas de mortalidade infantil da Europa.»[1]
Numa altura em que a Europa é devastada pela I Grande Guerra, o país sofre os efeitos da falta de alimentos, uma inflação galopante, a escassez das matérias-primas, o encerramento de muitas indústrias, graves crises de desemprego e miséria.
«Em toda a parte, faltaram as matérias-primas e os alimentos. Quando os havia, era preciso comprá-los no mercado negro, a preços loucos, ou em bichas gigantescas. A inflação agravou-se. Muitas indústrias tiveram de cessar actividade, por falta de abastecimentos.»[2]
Os livros de Actas da Junta de Freguesia do Barreiro referenciam um quadro geral de carências e privações de todo o tipo, com o espectro da fome a colocar-se diariamente, desde os finais da I República.
Em 5 de Abril de 1923, face às constantes solicitações de ajuda, a Junta de Freguesia do Barreiro elabora uma lista com os nomes dos indigentes da freguesia, da qual constavam 112 pessoas, a fim de lhes ser distribuída uma oferta do Governador Civil, no valor de 2$50[3].
Na véspera do Natal de 1925, a Junta do Barreiro, resolve oferecer um bodo aos pobres, mas a afluência de pessoas foi superior ao esperado. Impotente, a Junta declarava: «nesta freguesia a miséria que lavra em muitos lares é muito grande.»[4]
Os Livros de Actas dos anos que se seguem, mostram sinais que o problema da pobreza e da mendicidade não parece atenuar-se, pela menção constante a bodos e a esmolas efectuadas pela Junta que, recorria a diversos meios para auxiliar os mais necessitados. É assim, quando em 14 de Julho de 1931, a Junta do Barreiro procede à distribuição de uma esmola «à pobreza envergonhada do Barreiro para o que se irão procurar algumas creaturas que vivem na obscuridade...»[5].
O desemprego e a penúria eram tais que, muitas pessoas recorriam à mendicidade nas ruas. Para diminuir a impacto da situação, a Junta concedia ajudas monetárias para transporte, a pessoas desempregadas, que quisessem regressar às suas terras.
Cita-se o caso de Arminda Jesus, a quem foram atribuídos 5$00 para ajuda da passagem para a sua terra, em virtude de o seu marido se encontrar desempregado[6]. O mesmo auxílio foi concedido a uma indigente, para que pudesse voltar para Alcobaça. A Junta deliberou também socorrer a indigente Julieta da Conceição com 10$00, para o transporte de duas filhas menores, para os asilos onde se encontravam internadas. Regista-se ainda a atribuição de um subsídio de 15$00 a um menor de 13 anos, de nome Albano para auxílio «da passagem para Oliveira de Frades, a fim de se reunir a seu pai e seu avô, visto encontrar-se na mais extrema miséria, mendigando pelas ruas da vila.»[7]
Se até aos anos 30 Portugal era ainda um país predominantemente rural – com 80% da população a viver fora dos centros urbanos com mais de 5 mil habitantes[8] – essa feição começava agora a alterar-se, com o desenvolvimento de alguns pólos industriais à volta dos grandes centros de Lisboa e Porto. O Barreiro vem a ser, um dos casos mais exemplares.

 A expansão da CUF promove o afluxo permanente de um crescente número de famílias, provenientes do meio rural, especialmente do Sul e das Beiras, desprovidas de meios, portadoras de incertezas e dificuldades, cujo único bem que possuem é a sua força de trabalho. Este fenómeno favorecendo o arbítrio e a prática de salários baixos, vai conferir ao Barreiro um perfil de empobrecimento. Fenómenos de pobreza extrema atingiam parte muito significativa da população barreirense e toma-se consciência deste problema, ao consultar a documentação da Comissão Municipal de Assistência, que constitui um testemunho irrefutável da situação social no Barreiro, em plena ditadura salazarista.
Um dos primeiros actos desta Comissão, criada em 1946, foi a elaboração de um Relatório dirigido ao Director Geral da Assistência/Ministério do Interior que, espelha a situação que se vivia no Barreiro. Começa assim:

«A vila do Barreiro, centro industrial dos mais importantes, constitui simultaneamente importante fulcro de pobreza e miséria. A par da população trabalhadora há, no Barreiro, um considerável número de desempregados, que procuram trabalho, que buscam o pão de cada dia. Vêm de todos os pontos do país, atraídos pela miragem de uma colocação, que raros conseguem. As fábricas têm os seus quadros completos e, por isso, muito difícil se torna, hoje em dia, arranjar nelas colocação.
Estes homens, estas mulheres que vem procurar trabalho gastam na viagem para aqui os seus últimos recursos. Não havendo trabalho deixam-se ficar na esperança e ilusão de que um dia haverá. E vá de estender a mão à caridade, vá de procurar nas entidades públicas subsídios indispensáveis ao seu sustento, vá de revoltar-se contra tudo e contra todos.»[9]
A insuficiência de meios, levava famílias inteiras, a socorrer-se da assistência social, restando-lhes somente o apoio da Sopa dos Pobres ou a ou a Junta de Freguesia e mais tarde, a Comissão Municipal de Assistência.
No seu balanço anual do ano de 1945, a Comissão Administrativa da Sopa dos Pobres registou a distribuição de 80.975 refeições gratuitas, com uma média mensal de 6746 refeições, das quais 224 refeições diárias.[10]
Muitos dos que acorrem à Sopa dos Pobres são desempregados, alguns com famílias numerosas de 7 e 8 pessoas e há uma com 10.[11]
Os Livros de Actas da Comissão Municipal de Assistência fazem eco das situações de miséria que se viviam no Barreiro e como reflexo deste fenómeno, verifica-se o aparecimento de um variado leque de instituições e associações de apoio aos pobres e carenciados, nos finais do conflito mundial.
Citamos algumas em funcionamento em 1946: o Socorro Social, com um serviço denominado “Gota de Leite” destinado a crianças; as Comissões Municipais de Assistência do Barreiro, Palhais e Lavradio; a Sopa dos Pobres; a Sopa dos Desempregados, ambas com cozinha própria onde forneciam refeições gratuitas; o Instituto dos Ferroviários; o Asilo D. Pedro V, o Albergue para velhos, a Misericórdia.
Todas estas instituições facultavam apoio, à população pobre do Barreiro e a idosos, especialmente os que aqui chegavam provenientes «de outras regiões do País (especialmente agrícolas), com poucos recursos para sobreviverem com dignidade nas suas terras e que passam a recorrer à Assistência, pela carência de meios de subsistência e na doença, quando não encontram logo a almejada ocupação».[12]

Comissão Municipal de Assistência. Barreiro, 1947.

Em 18 de Maio desse ano de 46, a Comissão Municipal de Assistência do Barreiro, enviou um ofício ao Governo Civil de Setúbal, dando conta dos pedidos de auxílio que chegavam à instituição. Pediam leite para crianças e doentes, a farinhas para lactantes filhos de pais extremamente pobres, pagamentos de cautelas de penhores, especialmente roupas e utensílios de trabalho e pagamento de rendas «de barracas a indigentes».[13]
A Comissão não era imune às influências políticas, conforme se pode verificar com o que sucedeu em vésperas das comemorações do 28 de Maio. Nesta data, o Presidente da Comissão de Assistência, alertava o Presidente da Câmara Municipal, para a passagem do aniversário da designada «Revolução Nacional». Sugeria que autorizasse o pagamento de várias cautelas de penhores, o que, segundo as suas palavras «seria bastante agradável para os interessados e ao mesmo tempo lhes fazia ver que não haviam sido esquecidos nesta ocasião em que apelaram para V. Ex.ª.»[14]
Em tempo de poucos recursos e ausência quase total de bens materiais, nada escapava ao penhor, nem as peças de vestuário, mesmo as mais íntimas. Da consulta de uma lista de penhores, em que tudo eram objectos usados, constavam 2 cobertores de lã e algodão, 2 xailes de lã, 1 xaile preto, 2 camisas uma de algodão, 3 pares de cuecas, 1 lenço de algodão, 1 par de calças de fazenda, 1 casaco de fazenda e outro de linho, 1 vestido de crepe, 2 metros de flanela, 7 lençóis de algodão, 1 ferro de engomar[15].
Em Dezembro desse mesmo ano a Comissão Municipal de Assistência dirigiu um pedido às maiores empresas do Barreiro, solicitando auxilio para «os necessitados e indigentes deste concelho, de pequena área e grande população, na sua maioria gente operária» a fim de fazer face «aos sofrimentos de tantos infelizes e desprotegidos da sorte».[16]
As Actas da Comissão de Assistência dão, ainda, conta de situações limite, como a de uma mãe, em 1946, que em desespero e sem recursos para acudir à família, pede o internamento dos seus filhos em asilo.[17]

Notas:
1. MEDEIROS, Fernando – A Sociedade e a Economia Portuguesas nas Origens do Salazarismo, s.l., A Regra do Jogo, 1978, p. 143
2. «A República» RAMOS, Rui, vol. VI, História de Portugal, Lisboa, dir. José Mattoso, C. Leitores, 1994, p.519
3. Junta de Freguesia do Barreiro (JFB), Livro de Actas da Junta, 1923-1931
4. Idem
5. JFB, Livro de Actas da Junta, 1923-1931
6. Idem
7. Idem
8. «O Estado Novo», ROSAS, Fernando - vol. VII, História de Portugal, Lisboa, dir. José Mattoso, Estampa, 1994, p.61
9. Arquivo Municipal do Barreiro (AMB), Comissão Municipal de Assistência, CMB/B/Q/04/Cx. 01, 1946
10. AMB, Comissão Administrativa da Sopa dos Pobres – Receita e Despesa referente ao Ano de 1945, Tipografia Comercial, Barreiro, 1946, CMB/B/Q/04/Cx. 01
11. AMB, Comissão Paroquial de Assistência do Barreiro – Relação dos Desempregados Beneficiados com a Sopa do mês de Novembro de 1946, CMB/B/Q/04/Cx. 01
12. PAIS, p.246
13. AMB, CMB/B/Q/04/Cx. 01, 1946
14 Idem
15. Idem
16. Idem
17. Idem

07 dezembro 2012

retratos do barreiro # retratos do país # retratos da crise



dá que pensar a situação catastrófica do país e a rapidez com que tudo tem evoluído, agravando-se dia para dia .  o barreiro é o retrato do país: com a destruição das grandes empresas cuf/quimigal e cp, nada se produz hoje no barreiro, como no resto do país. uma grande parte da população barreirense vive  da segurança social,  reformados uns, outros desempregados, outros do rendimento social. actualmente as maiores empresas são a câmara municipal e o hospital mas com os cortes do orçamento para 2013, na área da saúde e da administração pública, entre outros, pergunto-me quantos mais irão perder o posto de trabalho no próximo ano. 
hoje em dia, quando encontramos amigos e perguntamos pelos filhos, a resposta é, invariavelmente: está na suiça, está na frança, está na inglaterra, está em espanha, está na américa. tudo emigrou e os que ainda cá estão ... 
até a pequena e média burguesia barreirense,sobretudo comerciantes, não resistiu. gente que não olhava ao que gastava, nem nunca teve problemas económicos, estão todos falidos. a poli vai fechar, a prolar foi à falência, em poucos meses já fecharam vários restaurantes só no centro: a ti maria, o aguiar no mercado, o pequeno café ao lado do sr. antónio dos frangos, a fragata, o moinho da praia ... estes são os que de repente me lembro. de cada vez que fecha uma loja de comércio abre um chinês ou uma loja de compra de ouro. nem têm conta, as lojas de ouro. fechou a benetton abriu uma de ouro, fechou o quiosque bactéria abriu uma de ouro, fechou a agência abreu abriu a florista fechou e abriu outra de ouro. fechou a loja de óptica ao lado do tico-tico abriu um chinês, do outro lado abriu outro chinês. fechou a viva abriu um que dizem que é português mas é chinês. as casas com placas dos bancos para leilões são mais que muitas...o mercado municipal está às moscas, nem os pequenos comerciantes se aguentam, com a maior parte das bancas vazias...até uma loja de verduras, na avenida teve uns dias aberta e fechou logo.
isto é apenas uma amostra do que está acontecendo aqui à minha volta, aquilo que eu posso observar com os meus próprios olhos. é um retrato do barreiro mas podia ser o retrato do país.
é o retrato da crise.
como será no próximo ano!?
nunca pensei que portugal pudesse chegar a este ponto.
eu que já vi e vivi muita coisa, o que me assusta é o que ainda poderá estar para vir. provavelmente iremos viver situações que hoje nem podemos imaginar.
isto tira o sono a qualquer um.

03 dezembro 2012

A condição operária no Barreiro: Primeira metade do séc. XX. Um retrato social


Grupo de trabalhadores da CUF, Praça de Santa Cruz, Barreiro, c. 1940. Arquivo Municipal do Barreiro


para que não se diga que não há memória. 
porque os tempos da miséria e da fome parecem estar a voltar. inicio aqui a publicação de uma Comunicação apresentada ao Colóquio Internacional "Industrialização em Portugal:o caso do Barreiro. 100 anos da CUF 1908-2008"

A condição operária no Barreiro: Primeira metade do séc. XX. Um retrato social

Autora: Rosalina Carmona



Resumo

A partir de 1907 quando a Companhia União Fabril chega ao Barreiro e tem início o processo que transformará a vila no maior centro industrial do país, intensificam-se os fenómenos migratórios que, desde meados de oitocentos, já atraíam muita gente ao Barreiro.
De acordo com a imprensa local, em 1930, ao Barreiro dirigiam-se milhares de pessoas, de todos os pontos do país.
«Gente de todas as aldeias vilas e cidades do paíz para aqui emigrou, como para um novo “Brasil” em miniatura»[1].
Infelizmente a CUF não trouxe só bem-estar e progresso. Enquanto a antiga vila se transformava num centro altamente industrializado e a Companhia União Fabril constituía o motor de desenvolvimento do concelho e do país, fenómenos como a falta de habitação, a pobreza, a fome, a exclusão, a doença e a poluição, assolavam o Barreiro.
O que analisamos em seguida,  são as repercussões dramáticas desse desmedido afluxo de pessoas ao Barreiro e a forma como todos esses aspectos se reflectiram nas suas vidas.A investigação privilegiou fontes como: os Livros de Actas da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia do Barreiro, da Comissão de Assistência Municipal, da Comissão Municipal de Higiene, entre outros documentos e jornais locais que, permitem antever um quadro social que não se reporta exclusivamente ao universo CUF mas, constitui como que o espelho da sociedade da época. Evidências de um quotidiano que identificamos com uma grande parte da população operária do Barreiro, em pleno apogeu cufista.


1. O problema habitacional:“Vilas Operárias” e Bairros Operários

Até ao século XIX o Barreiro viveu da pesca, da moagem, de artes e ofícios que em pequenas oficinas e estaleiros ocupavam uma parte da população, de alguma agricultura, sobretudo nas quintas, fazendas e pequenas hortas e vinhas que cercavam os arrabaldes da vila. A partir de meados de oitocentos, com a implantação do caminho-de-ferro, alguns terrenos começam a ser loteados e urbanizados e dessa forma começam a surgir, no exterior do núcleo urbano, alguns “bairros”, destinados aos ferroviários e suas famílias. O primeiro surge no Alto José Ferreira, junto à primitiva estação ferroviária (actuais oficinas da EMEF), perto do local onde em 1935 seria construído o Bairro Ferroviário, no Palácio do Coimbra.
Outros apareceram próximos ao apeadeiro do Barreiro-A como o “Bairro Miranda”, a “Vila Manso”, a “Vila Braz”, ou o “Bairro do Teodósio” que lhe ficava anexo, com as suas casinhas de adobe, onde os inquilinos pagavam entre 5 e 10 tostões, todos no Alto do Seixalinho.[2]
A partir da instalação do caminho-de-ferro desenvolveram-se os fabricos corticeiros e ganha corpo uma corrente migratória, com origem no Alentejo e serra algarvia que, não mais haveria de parar em direcção ao Barreiro. Desta fase registamos o aparecimento de algumas “Vilas” e “Correntezas Operárias”, como as da Rua Marquês Pombal, Largo Alexandre Herculano e Rua Miguel Bombarda.
Refira-se que as chamadas “Vilas Operárias” surgem no final de oitocentos, construídas por negociantes e industriais, como prédios de rendimento, destinados ao aluguer.
Em Lisboa são vários os exemplos mas talvez os mais conhecidos, ainda hoje, sejam a “Vila Grandela” em Benfica, construída pelo proprietário para o seu pessoal; a “Vila Santa Marta” formada por dois pisos, com quartos para alugar, individuais ou colectivos, com divisões minúsculas e ainda a “Vila Stº António”, propriedade do Conde Burnay «uma verdadeira caserna operária com quartos e dormitórios»[3].
Um quadro geral das condições de vida do operariado barreirense é traçado em 1910, pelo jornal “Avante”, que aborda o problema, referindo o insuficiente número de casas, os aluguéis caros, a falta de conforto e sobretudo, a falta de condições de salubridade e higiene das casas.
«São geralmente trez ou quatro, às vezes cinco divisões pequeníssimas, casas terreas ou assoalhadas, mas sem caixa d’ar nem ventilação adequada. Não possuem agua a não ser algumas em cujos patteos há poço, nem pias de despejo, por falta de colectores geraes na villa. Aquellas em que o proprietário tem construída fossa para despejos, valorisadas por esse melhoramento, sobem consideravelmente de preço o que as torna inacessíveis aos ganhos do operariado.»[4]
Os problemas causados pelos grandes aglomerados populacionais que viviam sem as elementares condições de higiene, colocou-se em Portugal com maior acuidade, quando em 1899, Lisboa foi devastada pela pulmónica.
Começam então a circular ideias de criar bairros operários “modelo”, que deveriam proporcionar aos seus moradores um espaço habitável, com higiene e conforto.
Apesar de estas ideias só se tornarem correntes em Portugal no século XX, elas já eram bastante populares em toda a Europa, logo nos princípios do século XIX. Existem muitos exemplos, de grandes patrões e industriais, que constroem bairros para o seu pessoal. O mais antigo talvez seja o dos «proprietários de Grand-Hornu em Mans, quem primeiro na Bélgica em 1817 construíram casas para operários».[5]
Podem ser citados outros casos [nas cidades de Essen ou Dusseldorf] na Alemanha, em França [Paris e Puteaux] na Inglaterra [Londres] e Áustria mas é sobretudo a Bélgica que é considerada na época o «país modelo, que tanto tem melhorado a situação das suas classes operárias…»[6], isto ainda em pleno século XIX.
Em sentido inverso, em Portugal em 1912, os operários e assalariados dos grandes centros industriais de Lisboa, Setúbal, Covilhã, Porto e Braga, viviam em bairros pobres, apertados e sujos, «autênticos viveiros de germes contagiosos».[7]
Ciente do risco que tais situações acarretavam para a saúde pública, o Ministério do Fomento da I República, alertava que se melhorassem as condições dos operários, a fim de que «se não turve a higiene das cidades com o perigo de todos, para que continue a haver braços fortes que movam as enxadas e martelos, mãos nervosas e ágeis nos fusos e teares»[8].
A mesma fonte prevenia ainda os “patrões inteligentes” que uma habitação cómoda, limpa e saudável, além de atrair o operário e fixar a família, fortalecia hábitos de asseio do corpo, enfim conferia melhor disposição ao trabalhador.
Considerava-se finalmente, como particularmente vantajoso o facto de o operário morar perto da fábrica, pois que, assim perdia muito pouco tempo no caminho de casa para a fábrica e vice-versa, bem como se desenvolvia «nesse pessoal o amor por aquelle meio fabril, que, mais e mais, se vae arraigando pelo correr do tempo.»[9]

“Pátios Particulares”

Com a Companhia União Fabril em expansão permanente, a intensificação da produção industrial exigia cada vez mais mão-de-obra. Em resultado deste processo, o Barreiro começa a registar a partir dos anos 30, um crescimento muito sensível da população, processo que vai inscrever-se nos fenómenos de êxodo rural em direcção às cidades, que atravessam toda a década de 30 e culminam na década de 40[10].
«O afluxo populacional às cidades portuguesas tem o seu momento de maior impacto na década de quarenta, em particular a Lisboa e aos concelhos limítrofes.»[11]
Segundo um estudo da Câmara Municipal, datado de 1848, estimava-se que naquela década, a população tivera um aumento aproximado de 40%[12], sem que o ritmo da construção acompanhasse o progresso demográfico.
Neste contexto o problema da falta de habitação, pela sua amplitude e pelas consequências, colocava-se como um problema de natureza social de grande gravidade. O estudo considera que em Portugal, face ao número de famílias e indivíduos, faltavam muitas habitações e o problema era agravado pela existência de «milhares e milhares de outras com poucas ou nenhumas condições de higiene, de comodidade e de conforto, onde se amalgamam famílias inteiras que vivem desprovidas dos requisitos mínimos que possam torná-las saudáveis e felizes.»[13]
Algumas destas ‘habitações’ situavam-se em pequenos pátios no interior de quintais e eram «casinhas de tijolo e madeira, abarracadas, à retaguarda das habitações (ou para lá dos muros de vedação), constituindo minúsculos pátios com serventia para a rua.»[14]

No inquérito realizado, a Câmara Municipal, registava que as condições em que habitava uma grande parte da população operária eram verdadeiramente angustiantes.
«…num prédio antigo existente no centro da vila, vive um família de cinco pessoas, que não dispõem de ar nem de luz directa, e que não tem, também, instalação eléctrica. O chefe de família é, operário na C.U.F. e paga de renda 60$00.»[15]
No mesmo inquérito é recenseada a existência de 486 barracas no concelho, habitadas nas condições mais precárias e estimava-se que o número tivesse aumentado no último ano.
Estas barracas, toscas e doentias, não ofereciam defesa contra o frio, o calor ou a chuva e geralmente eram constituídas apenas por uma divisão única, onde habitava toda a família. Foram surgindo nos arredores da vila, espalharam-se pelo Bairro das Palmeiras (vulgo “Bairro da Folha” porque as coberturas eram em folha de Flandres), Alto do Seixalinho, Quinta dos Silveiros, Alto da Paiva, Recosta, etc. e chegaram ao concelho da Moita, nomeadamente à Baixa da Banheira, ou “Bairro Changai” como era conhecido à época.
«Numa delas constituída apenas por um cubículo – habitam nove pessoas. É frequente, no entanto, encontrar casos em que cinco pessoas dormem no mesmo cubículo e na mesma cama. Encontrámos alguns, em visitas que fizemos ao Alto do Seixalinho e Quinta dos Silveiros, assim como em certos “pátios particulares” no Bairro das Palmeiras.»[16]
O documento informa ainda que, algumas barracas são habitadas por indigentes, mas «grande parte é utilizada por operários com grandes encargos de família e que vencem pequenos salários de 20 e 30$00 diários.»
Muitas vezes para quem chegava do meio rural e tentava o seu ingresso na fábrica, esta era a primeira habitação. Com o tempo podia arranjar-se melhor ou então, as famílias que ficavam por estes “pátios” arrastavam uma existência miserável, em alojamentos precários e sobrelotados, onde a vida «decorria entre imundície e imoralidade»[17] e palavras como conforto ou privacidade não faziam qualquer sentido.

O Bairro Operário da CUF

Cem anos volvidos sobre a construção do primeiro bairro operário na Europa, Alfredo da Silva manda edificar em 1909, o Bairro de Santa Bárbara. Para os padrões de alojamento da época o bairro da CUF constituiu uma novidade, pois oferecia melhores condições aos moradores, possuía rede de esgotos, abastecimento de água potável e iluminação eléctrica.
O bairro representa um dos aspectos mais visíveis da chamada “obra social” da CUF, na qual Alfredo da Silva se empenhou pessoalmente, ao defender um modelo ao qual não era alheia «uma vertente política bem vincada»[18]. Na realidade, com o objectivo de evitar greves e protestos, Alfredo da Silva, oferecia benefícios aos operários, desarmando os seus opositores políticos, especialmente republicanos e socialistas, que «pretendem chamar para os seus Clubs o pessoal da Companhia a fim de lhe incutirem no espírito insubordinação»[19].
A “obra social” da CUF enquadra-se numa lógica de estratégia empresarial. A construção do bairro no interior do próprio espaço fabril, é um dos casos mais paradigmáticos da política de fixação do operário ao local de trabalho, num “modelo paternalista”[20], tendente a desencorajar qualquer atitude de contestação política ou laboral.
Com efeito «o rosto mais simbólico do capitalismo em Portugal»[21], não se mostrava muito apoquentado com as condições de trabalho dos seus operários, opondo-se tenazmente à Lei das oito horas de trabalho[22] e recusando-se a aplicar «legislação que impunha a responsabilidade patronal em certos domínios, como os acidentes de trabalho…»[23].
Uma das condições relevantes para atribuição de uma casa no Bairro de Santa Bárbara era, a função que o trabalhador desempenhava na fábrica, e a facilidade que representava para a empresa, a possibilidade de fazer «chamadas frequentes fora das horas normais de serviço ou horários de turnos» do pessoal.[24]
A admissão às casas passava pela «existência de apertados e rígidos critérios de acesso à habitação disponibilizada pela Companhia»[25], visto que somente os trabalhadores efectivos ou os seus familiares eram escolhidos para as casas que vagavam.
Por outro lado, a política selectiva da CUF estendia-se a certos domínios da vida pessoal dos candidatos às habitações, embora essa questão fosse confidencial, conforme consta das “Normas para Atribuição de Casas” no Bairro de Santa Bárbara. Na verdade, uma das primeiras condições exigidas aos futuros moradores passava, por uma conduta moral irrepreensível, referindo-se a «constituição legal da família» e a «filiação legítima dos filhos»[26], como indispensáveis à sua atribuição.
Muito embora não fosse mencionada, a questão religiosa parece não ter sido descurada, pois o novo Bairro da CUF, no Alto do Seixalinho, construído em 1955, era conhecido entre muitos barreirenses como o “Bairro dos Católicos”.

Considerados todos estes aspectos, conclui-se pela evidência de que a política habitacional da CUF não tinha objectivos meramente filantrópicos, ao criar um bairro para os seus trabalhadores, mas, estava direccionada sobretudo, para uma dependência cada vez maior do operário face ao patrão e à empresa, tolhendo e condicionando os comportamentos dos moradores do bairro. 


No próximo post:
2. Sobrevivência quotidianaCarências alimentares, desemprego, pobreza e exclusão



NOTAS
1 “O Barreiro Despresado” in Eco do Barreiro 4 de Outubro, 1930, editorial de 1ª pág.
2 CARMONA, Rosalina – …do Barreiro ao Alto do Seixalinho Um Passado Rural e Operário, Barreiro, Junta de Freguesia do Alto do Seixalinho, 2005, p. 68
3 GROS, Marielle Christine – O Alojamento Social sob o Fascismo, Porto, ed. Afrontamento, 1982, p. 98
4 «Questionário ao Trabalho Industrial - VII. Condições da Vida Operária», Avante, 10 de Novembro de 1910, p. 4
5 OLIVEIRA, J. de Simões – «Contribuição para Estudo das Casas para Operários», Boletim do Trabalho Industrial, nº 66, 1912, Lisboa, p. VI
6 Idem, p. 3
7 Ob., cit. p. VI
8 Idem, Ibidem
9 Idem, p. 29
10 JANARRA, Pedro – A política Urbanística e de Habitação Social no Estado Novo, Tese de Mestrado em Sociologia (texto policopiado), Lisboa, Biblioteca Nacional, 1994, p.33
11 JANARRA, Ob. cit.
12 Arquivo Municipal do Barreiro (AMB), «O Problema Habitacional no Concelho do Barreiro – Estudo – 1948», AMB, CMB/M/A/ 04.01/Cx 02 1945-51
13 Idem
14 PAIS, Armando da Silva – O Barreiro Contemporâneo, Barreiro, CMB, vol. I, 1971, p. 306
15 AMB, «O Problema Habitacional …»
16 AMB, «O Problema Habitacional …»
17 PAIS, Armando da Silva – O Barreiro Contemporâneo, Barreiro, CMB, vol. I, 1965, p. 307
18 FARIA, Miguel – Alfredo da Silva Biografia 1871-1942, Lisboa, Bertrand, 2004, p. 112
19 FARIA, Ob. cit.
20 Vd. ALMEIDA; Ana Nunes – A Fábrica e a Família Famílias operárias no Barreiro, Barreiro, Câmara Municipal do Barreiro, 2ª ed., 1998, p. 170
21 ALVES, Jorge Fernandes – Jorge de Mello «Um Homem» Percursos de um Empresário, Lisboa, Inapa, 2004, p. 15
22 Lei Nº 296 de 22 de Janeiro de 1915
23ALVES, p. 55
24 “Bairro Operário Normas para Transferência de Casas”, texto policopiado, Quimiparque
25 MARTINS, Alexandre, acedido em http:// www.aps.pt «Paternalismo, habitação, fidelização operária. O caso do bairro da Stª Bárbara no Barreiro» in Actas dos Ateliers do V Congresso Português de Sociologia, Atelier: Cidades, Campos e Território, 2004
26 CARMONA, Rosalina – …do Barreiro ao Alto do Seixalinho Um Passado Rural e Operário, Barreiro, Junta de Freguesia do Alto do Seixalinho, 2005, p. 122 

28 novembro 2012

lembrança




fui essa que nas ruas esmolou 
e fui a que habitou paços reais; 
no mármore de curvas ogivais 

fui essa que as mãos pálidas poisou..



tanto poeta em versos me cantou! 
fiei o linho à porta dos casais... 
fui descobrir a índia e nunca mais 
voltei! fui essa nau que não voltou... 

tenho o perfil moreno, lusitano, 
e os olhos verdes, cor do verde oceano, 
sereia que nasceu de navegantes... 

tudo em cinzentas brumas se dilui... 
ah, quem me dera ser essas que eu fui, 
as que me lembro de ter sido... dantes!... 

florbela espanca, 
"charneca em flor"