esta é uma manhã de frio
4 graus na verderena!
até as gaivotas
como adivinhando tempestade
todas em terra
aguardam
serenas
nesta manhã de maré cheia
de rio revoltado na muralha
lisboa brilha ainda mais
e o frio
um frio cortante
que cresta a pele
pele como pão
pão da minha terra
terra como pele
pele como terra lavrada
penso em ti
rapazinho da t-shirt vermelha
desbotada
penso em ti
e nesse olhar
triste
olhar a disfarçar a tristeza
nessa tua t-shirt vermelha
russa
aí parado
ao frio
e eu com vontade de te dar um abraço
e falta-me a coragem
e fico de longe
a olhar-te
sem te dizer
as palavras
que talvez não entendesses
porque o modo de falar
da terra onde nasceste
não é o meu
dizer-te
que és tão humano como eu
tens veias
pele
e sangue
e estás aqui
perdido
e o meu coração partiu-se
nesta manhã de gelo
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