escritos, ditos e poesia
O REGRESSO DO MOSTRENGO O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar. FERNANDO PESSOA, Mensagem O mostrengo não está no fim do mar.Ocupa as ruas, bate à nossa porta,vomita chamas na cidade morta,escreve garatujas no luar. Ei-lo que espreita em cada patamarpronto a saltar-nos à garganta. Importalançar brados de alerta à malta absortaque se deixou nos ventos embalar. De pé! O monstro volta! Unir fileiras!Deixemos as diferenças das bandeiras:É preciso avançar em marcha unida. A nossa força é sermos um só povoe uma só terra a defender de novo.A morte do mostrengo é a nossa vida! Carlos Domingos___________________________________________________Todos unidos na luta contra o Mostrengono próximo sábado dia 29!
O Monstro Que voz o silêncio em eco levantaTremenda feroz gelada sombriaQue nos fecha a mão nos cala a gargantaE torna a manha gélida, mais friaQue vozes de túmuloHá tanto caladasLevantam ao cúmuloO pavor dos diasE tornam opacasAs brandas paisagensE tornam as noites tredasE vaziasQuem anda por dentroDos sonhos que temosSemeando algemasQue são dessa corEm que se amalgamamOs prantos as penasNesse sofrimento cada vez maiorEm nome de quemQue monstro severoTraz em seu sudárioDe horrendo luzirAs asas cortadasDo loiro canárioQue livre pelos aresOuvíamos rirQuem é que nos chegado mundo dos mortoscom baba de réptilcolando-se em nóse faz sementeirano solo que fértilconstruímos limposem peias nem pós na ronda dos dias o povocantavacantando bailavabailando não viaque o monstro rasteiropelos ares espalhavaessa pestilênciade que ele vivia enquanto a manhãnão amadurara luz que se infiltranos olhos ao fundoo monstro escondidoainda tentarácobrir de seu bafoo tempo perdidoe calar o Mundo. Marília Gonçalves
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O REGRESSO DO MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar.
FERNANDO PESSOA, Mensagem
O mostrengo não está no fim do mar.
Ocupa as ruas, bate à nossa porta,
vomita chamas na cidade morta,
escreve garatujas no luar.
Ei-lo que espreita em cada patamar
pronto a saltar-nos à garganta. Importa
lançar brados de alerta à malta absorta
que se deixou nos ventos embalar.
De pé! O monstro volta! Unir fileiras!
Deixemos as diferenças das bandeiras:
É preciso avançar em marcha unida.
A nossa força é sermos um só povo
e uma só terra a defender de novo.
A morte do mostrengo é a nossa vida!
Carlos Domingos
___________________________________________________
Todos unidos na luta contra o Mostrengo
no próximo sábado dia 29!
O Monstro
Que voz o silêncio em eco levanta
Tremenda feroz gelada sombria
Que nos fecha a mão
nos cala a garganta
E torna a manha gélida,
mais fria
Que vozes de túmulo
Há tanto caladas
Levantam ao cúmulo
O pavor dos dias
E tornam opacas
As brandas paisagens
E tornam as noites tredas
E vazias
Quem anda por dentro
Dos sonhos que temos
Semeando algemas
Que são dessa cor
Em que se amalgamam
Os prantos as penas
Nesse sofrimento
cada vez maior
Em nome de quem
Que monstro severo
Traz em seu sudário
De horrendo luzir
As asas cortadas
Do loiro canário
Que livre pelos ares
Ouvíamos rir
Quem é que nos chega
do mundo dos mortos
com baba de réptil
colando-se em nós
e faz sementeira
no solo que fértil
construímos limpo
sem peias nem pós
na ronda dos dias o povo
cantava
cantando bailava
bailando não via
que o monstro rasteiro
pelos ares espalhava
essa pestilência
de que ele vivia
enquanto a manhã
não amadurar
a luz que se infiltra
nos olhos ao fundo
o monstro escondido
ainda tentará
cobrir de seu bafo
o tempo perdido
e calar o Mundo.
Marília Gonçalves
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