24 maio 2010

poema de sidónio muralha




parar. parar não paro.
esquecer. esquecer não esqueço.
se carácter custa caro
pago o preço

pago embora seja raro.
mas o homem não tem avesso
e o peso da pedra eu comparo
à força do arremesso

um rio, só se for claro.
correr, sim, mas sem tropeço.
mas se tropeças não paro
- não paro nem mereço.

e que ninguém me dê amparo
nem me pergunte se padeço.
não sou nem serei avaro
- se carácter custa caro
pago o preço.

sidónio muralha
poemas de abril, prelo, 1974



19 maio 2010

inteireza




não sei não ser sincero,
nem o quero.
se o não fosse,
o que eu dissesse,
o que eu fizesse,
poderia ser mais belo, seria mais prudente,
dar-me-ia um mais doce sossego do que tenho,
mas o que não teria, com certeza,
era esta singeleza,
era esta inteireza,
que mantenho,
em manter-me comigo intransigente.

Armindo Rodrigues
O Poeta Perguntador



14 maio 2010

este nosso tempo sombrio

entre a festa do futebol e a visita do papa passam em roda-pé notícias do aumento dos impostos, da criação de novos impostos agora chamados taxas especiais, da redução dos salários e das reformas e do subsídio de desemprego, do corte dos direitos de quem trabalha. será isto uma república demcrática, laica,  livre e desenvolvida? a impressão que tenho é que vivo em itália, o primeiro ministro é berllusconi, a imprensa foi comprada pelo governo e a máfia assaltou poder.

10 maio 2010

o povo grego resiste




o povo grego é um exemplo de resistênciapara os povos da europa e do mundo
 à ofensiva do capitalismo global

05 maio 2010

de volta a setúbal... se não fosse a grécia

o que me apetecia mesmo era falar de setúbal. a azáfama do porto de setúbal em dia de trabalho. tudo na labuta. os pescadores de volta das redes e dos barcos. trabalhadores do porto manobram guinchos de puxar os barcos para terra, outros em pequenas reparações, alguns velhos, antigos pescadores, sentados à conversa. poucos turistas em passeio. muitos pescadores com os apetrechos montados, a pescar na muralha. uma mulher pescadora, de bmw ainda dá mais nas vistas. a figura alta e esguia de um homem de pé, pele tostada pelo ar salgado.  olha o rio azul que se reflecte no seu olhar, fumando calmamente. talvez numa pausa antes de recomeçar a faina. aprecia... qualquer coisa, ou pessoa que lhe passe pela frente. o cheiro do peixe e da maré, à primeira sensação desagradável,  logo se torna natural quando nos damos conta do local em que nos encontramos. é o odor forte e característico de um porto de mar e da lota vizinha. a vista das embarcações de pesca. indescritivel beleza! mil fotografias e não conseguiríamos captá-la, ou todo o labor que envolve essa faina pesada e perigosa, que ainda é a pesca. o colorido dos barcos, arrumados em duas ou três ordens, o seu baloiçar suave nas águas, os gritos das gaivotas e as disputas pelo peixe, a ingenuidade dos nomes inscritos na proa e na popa. sempre a fé, a mística, o nome de alguém querido em reverência temente. à imponderabilidade. em terra, antigas barcaças desoladas,  sem préstimo, contapõem a sua desordem. seriam precisas horas e horas para descrever um dia de trabalho e todas as sensações que nos assaltam. as músicas que nos afloram a lembrança, como se já as tivessemos escutado antes, ali naquele preciso local...os poemas que escrevemos mentalmente e não passámos para o papel...talvez num outro dia, mais inspirado..e . era disto tudo que gostaria de falar se não fosse a grécia e a luta de massas e toda a violência que envolve a exploração capitalista e a resistência que é preciso opôr-lhe.