30 março 2012

gente do sul




hoje
o vento sopra
do sul

com ele chegam brados
cantados

as nuvens andam no ar
arrastadas pelo vento
foram buscar água ao mar
pra regar em todo o tempo

este vento
não é o suão

quente
fornalha
de verão

este vento
sopra
no pensamento

baloiça
nas altas
esguias
árvores
 magoadas

sem folhas

vazias

o vento
que sopra do sul
não consegue calar
o tempo


nas altas
esguias
magoadas
árvores
de folhas
vazias
pousam
vozes

como aves

falas antigas
 suaves

contam histórias de fadigas

falam de gente

gente chegando
do sul

de passo lento
cadente
cantado
às vezes contente

gente que chegou
sem nada

gente
só com braços de gente


gente

deixou a planície
com a claridade no olhar
com a cidade na mente

esta gente
veio
e fez-se à cidade

fez-se ao barreiro

esta gente
 rima
com saudade


rio de gente
mar de gente 
gente na margem
sul
do tempo

gente do sul
gente do vento
gente que se sente
 ser boa-gente

gente boa
partiu pra lisboa

e com a sua voz dolente
canta

uma saudade de quem  se sente
ausente
do seu chão
da sua gente


gente que tem na alma
a calma

e o vento
que sempre sopra do sul
urgente

do sul

21 março 2012

greve geral 22 março 2012





é quase meia-noite

e eu vou entrar em greve 





no dia da poesia e dos poetas




o poema original

original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema 
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.

o que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
original é o poeta 
que de todos for só um.

original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender 
o que é choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
original é o poeta 
que é gato de sete vozes.

original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor

esse que despe a poesia
como se fosse mulher 
e nela emprenha a legria
de ser um homem qualquer.

ary dos santos

um dos poetas da minha vida











03 março 2012

liberdade








canta a cotovia

o melro assobia

anunciando o fim do dia

eu

em gaiola de palavras

faço das  grades

asas