24 maio 2012

quando eu nasci






"quando eu nasci,
ficou tudo como estava..."
sebastião da gama


quase nasci debaixo de uma azinheira
numa segunda feira
quente como fornalha

quase em cama de palha

que  minha mãe
ceifeira de trigo
cortava
na herdade de belmeque
junto à serra da preguiça

em alentejo largo
de sol a sol
e castigo

no campo do latifúndio
abri os olhos

espantei-me com o mundo

levaram minha mãe
num burro
e
nasci em casa
na rua do castelo
hoje nº 12,
então não tinha número

naquela aldeia de pias
da vila de serpa
longe de tudo
era grande o mundo


eu nasci  e o meu pai estava preso
em caxias
por causa de maio

por causa de maio
antes daquele dia
o
primeiro,
vieram
muitas vezes 
buscá-lo

à noite 
atrás de grades
o meu pai 
trazia
no peito a dor
de um país sem liberdade



ainda nem me conhecia
e as saudades já 
que sentia

escrevia-as
nas cartas que alguém lia
e minha mãe  escutava 

e chorava


quando os seus olhos me viram
eu  sorria 
e já tinha meses


herdei de meu pai
essa dor 
e
ao longo da minha vida
a tenho sentido

ainda a  sinto 
muitas vezes 


nasci a 25 de maio de 1959

07 maio 2012

vive la france! vive la republique universal!




a esperança 

abriu-se em flor 

em frança


e em nós


no rosto 

e no peito deste povo

vogam velas

com rumo novo




poderá a bastilha ser o novo rastilho

?




nas ruas de paris, páscoa 2012

sentiamos os ventos 

e a vontade 

de mudança










as palavras

igualdade

solidariedade

fraternidade

são mais fáceis

de dizer

que fazer




o tempo dirá...



a esperança 

 é um dia novo


e

habita 

o coração do povo