03 setembro 2012

crónica de uma manhã



de saída para o trabalho. hoje vai estar mais um dia de grande calor. lá terei de levar o meu chapéu branco...
antes passo pela avenida da praia.
que belo dia! que bela, a vida. e este rio que não me cansa, hoje um tudo nada agitado, em cintilações de aragem fresca, que me arrepiam os braços. a serra de sintra, no seu azul de lonjura. não há mariscadores hoje. ainda há dias eram às dezenas, na apanha da amêijoa que, ressurge com fartura. cópia de mariscos e toda a sorte de peixe, como escreviam no século xvi, a propósito da grande riqueza deste este rio.  parece que teima em recuperar a sua saúde, este rio milenar. a natureza faz tudo por nós. e veja-se como lhe retribuímos…
nesta alameda, belíssima alameda! que recorda bento gonçalves, líder comunista a quem foi tirada a vida no campo de concentração do tarrafal, admiro eu lisboa e a vida. que privilégio poder aqui estar, viva!



sobre lisboa levantam e aterram aviões, num constante vai-e-vem. lá vai a easy jet, é a que passa mais vezes, consigo vislumbrar-lhe as cores e logo o pensamento voa,  à velocidade da luz, um dia destes lá vamos, outra vez. a caminho de lausanne.
pela alameda  caminheiros matinais,   homens e mulheres. tudo malta de meia idade, já. desfrutando, enquanto podem. 
um bando de gaivotas mais à frente, em disputa. e eu tenho de me desviar, ou apertar o nariz. porra! porque é que a estação de tratamento, já construída! nunca mais entra em funcionamento?! porque é que continua a despejar a merda todos os dias, em dois sítios! da muralha!? quando isto acabar acho que merece fogo de artifício. isso sim é um benefício. isso é que será qualidade de vida. lá tinha que vir esta referência comezinha, estragar esta minha crónica tão bonita, do quotidiano. mas já deixei a merda pra trás e aqui vou, fazendo mais umas fotos do rio, já lhe perdi a conta. eu devia era ter sido fotógrafa. 
pela avenida encontro muitos jovens, de exótica beleza! estes rapazes e raparigas angolanos, na frescura da mocidade com que enchem as ruas do barreiro de algazarra alegre
(ó pá tu toma cuidado com elas. elas são gatunas di homens! dizia um deles).



já conquistaram todo o bairro operário e continuam a tomar as tantas casas vazias que aí estão, por esse barreiro. muitos dos seus filhos têm de o deixar, por força da desgraça em que este país se vai afundando.
e chego ao bairro. e aqui está, à minha espera josé antónio marques e os seus mil caderninhos, manuscritos. hei-de me reformar e não acabo a leitura de tudo o que este homem escreveu. escrevia em todos os pedacinhos de papel que apanhava à mão. impressionante! e ainda os passava a limpo. ele queria mesmo que alguém lesse, tomasse conhecimento do que ele deixou, viveu. que grande cronista, ignorado que foi este operário, homem ferroviário, poeta do quotidiano, escritor, jornalista. que riqueza de informação nos deixou. não me cansarei de o divulgar em todos os forúns científicos.
cheguei ao arquivo. talvez à hora de almoço passe tudo para o computador, se não me esquecer de metade...

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