05 julho 2012

emigrantes




quando passo naquele jardim
o jardineiro sorri para mim
desejando-me 
“bom dia di trabalho”

a sua voz de pássaro
alegre
sempre a cantar
 que trouxe 
das  ilhas
verdes
do verde mar 

deixa-me a pensar

no preço
que teve de pagar


deixar o seu país
para emigrar
trabalhar
em portugal

na sua pele
 cor da sua terra
escura
brilha a alegria
da vida 

em pérolas 
na alva dentadura

no seu passo de coxear
posso adivinhar
a vida deste jardineiro
 não são flores
é
ou foi dura

numa obra qualquer 
desta terra
perdeu uma parte de si
do seu corpo
como se combatente 
de uma guerra

quem sabe se por isso
é agora jardineiro de serviço
neste horto

nas contas 
das grandes empreitadas
dos exploradores
do mundo 
não constam
as vidas roubadas
as famílias apartadas

o quanto pagam os emigrantes
quanto custam as suas dores


sem saber
este jardineiro
que oferece sorrisos
como flores
alegra o meu dia
tratando o seu jardim
como se fizesse amor
ou poesia


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