18 dezembro 2010

como se uma manhã qualquer



manhã
como se uma manhã qualquer

 esta é uma manhã de frio
4 graus na verderena!

até as gaivotas
como adivinhando tempestade
todas em terra
aguardam
serenas

nesta manhã de maré cheia
de rio revoltado na muralha
lisboa brilha ainda mais
e o frio
um frio cortante
que cresta a pele
pele como pão
pão da minha terra
terra como pele
pele como terra lavrada
penso em ti
rapazinho da t-shirt vermelha
desbotada

penso em ti
e nesse olhar
triste
olhar a disfarçar a  tristeza
 que vai pelo mundo

nessa tua t-shirt vermelha
russa
aí parado
ao frio

e eu com vontade de te dar um abraço
e falta-me a coragem

e fico de longe
a olhar-te
sem te dizer
as palavras

que talvez não entendesses
porque o modo de falar
da terra onde nasceste
não é o meu

dizer-te
que és tão humano como eu
tens veias
pele
e sangue
e estás aqui
perdido

e o meu coração partiu-se
nesta manhã de gelo


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